Não mais
hospedava meus passos no seu desconforto, sonhar era mais fácil que quilometrar
o desapego. O espaço que nos separa dobrou o tempo do encontro e até os
viadutos, se esqueciam e se lembravam em paralelo com nossas indecisões.
No meu colo, carregava o vazio do seu descuido, e sem reconhecer teu
andar, descansava meu caminho.
Entre a
calçada e a porta, eu teria que andar por infinitas estradas. Entrar naquela
casa, era reconhecer as minhas inúmeras fraquezas, a minha fragilidade, a sua
força intensa. E eu nunca soube dar meia volta. Então, eu preferia
cambalear a ter que me acercar de sua cintura, ainda que seu umbigo me atraísse
como um sol. No meu delírio, eu orbitava, passeando por seus seios, seu ventre.
Eu só orbitava, sem nunca ser protagonista afinal.
Engoli em
seco e abri um dos livros-apoio-de-pés. Procurei qualquer verso de amor que te
falasse por mim. Que te falasse amores ou saudades. Que te falasse mistérios ou
novos medos. Qualquer verso que me poupasse de minhas palavras secas e cansadas.Qualquer
verso que coçasse nossos pés, qualquer métrica que mapeasse ou instigasse teu
significado em minha percepção. Depois de alguns goles na cerveja, toda poesia
cinética caminhava no azulejo gelado que eu tanto evitava deitar teu corpo.
Desisti de te dizer qualquer coisa. Só queria devorar faminto a
sua boca de tantas palavras, agora doces, não mais do que uma lembrança, não
mais que adivinhação, palavras-além-pés.